terça-feira, 21 de janeiro de 2014

QUERIDO GREGÓRIO


Faz já um tempo que estou pensando em te escrever, mas venho lutando com as palavras, que insistem em jorrar pelos meus dedos, sem qualquer disciplina ou subordinação, revirando todo o meu interior, bagunçando as emoções e derramando-as pelos olhos. Esta é uma carta de saudade.


Recentemente reli suas cartas e pude reviver cada momento contido nelas. Como é bom o tempo que passo com você. Sinto tanto a sua falta, e nem sei como te dizer ou demonstrar isso. Talvez você jamais consiga dimensionar o tamanho do amor que sinto por você. Talvez eu jamais consiga exprimi-lo em sua totalidade.

Só Deus sabe quanto eu desejo passar mais tempo com você. Queria dançar com você, ouvindo nossa própria música, e passear de mãos dadas ou, melhor ainda, abraçados, com os corações colados, como já fizemos tantas vezes. Tomar um vinho com você e rir de nossa intelectualidade inventada, como se soubéssemos de tudo um pouco. Olhar as estrelas e filosofar sobre a vida, sobre o mundo, sobre as ideias. Ler, pensar, compartilhar. Queria passar mais tempo com você, mas vejo a vida nos atropelando e nos afastando. Reconheço que grande parte desse afastamento vem de minhas escolhas erradas e admito que é um alto preço que venho pagando dia após dia. Ver seus sorrisos e saber de suas conquistas, tendo que observar à distância, sem poder te dizer o quanto estou orgulhosa por você ser quem você é e como você me inspira, é uma dor que carrego comigo constantemente.


Sinto-me culpada por não conseguir superar tantas barreiras que se levantaram entre nós, por não ter te recebido em casa outro dia, por não estar tão presente como gostaria num dos momentos mais importantes de sua vida e ter agido como mera coadjuvante de sua felicidade. Por favor, perdoe-me por ter colocado outro em seu lugar.


Apesar de tantos conselhos e encorajamentos que você me deu, continuei pegando atalhos, ferindo-me nos espinhos. Estou acorrentada em minhas derrotas e isso me envergonha. Vejo-te tão independente e bem sucedido, feliz e realizado, após um período de difícil escalada, e isso me enche de orgulho. Como já disse, você me inspira. Tenho muito orgulho de tudo o que você é para mim. Sinto muito por não poder ser grande coisa para você.


Sei que já passou um tempo, mas não poderia encerrar essa declaração sem parabenizá-lo por sua mais recente felicidade. Estou realizada em vê-lo tão feliz, com o sol brilhando ao seu lado, iluminando seu dia e sua vida. Desejo, de todo coração, que esse sol te envolva todos os dias, e te aqueça, realçando as cores de seus sonhos, trazendo outras realizações que eu sei que você tanto almeja. Vocês são perfeitos juntos e quero que saibam que os amo demais, muito mais do que posso dizer ou demonstrar.


Seja muito feliz, querido Gregório. Ainda teremos muitos momentos para rir juntos, sei disso. Ainda faremos coisas juntos e brindaremos sem motivo, apenas para apreciar o sabor de estarmos um com o outro... E vamos olhar as estrelas... E voar... E dançar... E ser feliz....



Com um amor indizível.....



Sua Lâmede.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

CANTO

Um pássaro, em sua liberdade, voa pela imensidão, sem preocupar-se com nada. Tem tudo o que precisa e sente-se feliz.
Voando baixo, certo dia, algo brilhante chamou sua atenção. Quando se aproximou para ver o que era foi capturado. Tentou voar e não conseguiu. Debateu-se até a exaustão, machucando-se todos, mas não pode sair daquela prisão.
Então ele cantou. Cantou alto e forte, um canto lindo e envolvente. Todos pensavam que cantava por estar feliz. Seu canto, no entanto, era um pedido de socorro. Cantava clamando por sua liberdade perdida. Ninguém entendeu. Ninguém atendeu.
Continuou cantando. Um canto miudinho e fraco, quase desafinado. Não pode mais voar e ser feliz na imensidão. Seu canto foi tudo o que lhe restou. Por isso, apenas por isso, continua cantando.

CADEIRA DE BALANÇO

Da varanda de sua alma velha, presa em uma cadeira de balanço, ela apenas observa.

Lá fora a vida continua. Meninas nascendo, jovens apaixonados casando-se, a estudante dedicada fazendo carreira, crianças brincando no quintal.

Da varanda de sua alma velha, presa em uma cadeira de balanço, ela chora seu luto. Ali mesmo, naquela velha casa, o que tinha de mais querido e estimado está sepultado. Enterrou seu amor, seus sonhos, suas lembranças alegres. Apenas um pequeno raio de sol entra por uma fresta da janela trazendo um pouco de luz àquele lugar.

Lá fora a vida continua. As flores florescem, perfumando o ar, alegrando os olhos. A chuva cai, renovando a vida e trazendo refrigério. O sol aquece, acendendo amores. A lua acaricia a face dos apaixonados. As estrelas cantam e dançam, num grande espetáculo.

Da varanda de sua alma velha, presa em uma cadeira de balanço, ela sente frio. Onde está tudo é cinza e empoeirado. As cores já desbotaram há tempos. As flores murchas foram esquecidas ali para marcar uma vida que já não existe mais. Os sabores, doces e alegres sabores de outrora, se tornaram em amargura na boca seca. A sala está vazia e escura. Os retratos, os poucos retratos que sobraram, estão quebrados ou embaçados pela sujeira. Apenas um pequeno raio de sol entra por uma fresta da janela e brinca em meio ao caos.

Lá fora a vida continua. Uma adolescente passa a noite acordada, suspirando amores coloridos. Uma canção de amor é composta por um músico melancólico. Uma festa de formatura coroa os esforços de um estudante. Uma estrela cadente risca o céu fazendo a menina sonhar.

Da varanda de sua alma velha, presa em uma cadeira de balanço, ela se deixa morrer lentamente, cheia de culpas e remorços e vazia de sonhos e esperanças. Apenas um pequeno raio de sol, que insiste em entrar uma fresta da janela, tenta aquecer seu coração e mantê-la acordada.

Lá fora a vida continua... indiferente...