domingo, 12 de outubro de 2014

ESPERA


Olhando pela janela, só o que vê é solidão. Lá fora a noite é escura e fria. Lá dentro também.
Dor, medo, frustração, sentimentos inenarráveis.
Ao redor, tudo parece ferir.
Encolhe-se num canto gélido do quarto escuro, como quem procura abrigo em meio a um bombardeio.
Não há paz, não há segurança, não há vida.
O que encontra é solidão, medo e dor.
Em meio ao caos, apenas espera... espera... espera...

INOCÊNCIA

A Inocência repousa ao meu lado, sorrindo.
Que lindo sorriso ela tem!
A Inocência quer me convencer de que o mundo é lindo e cor-de-rosa.
Ela se preocupa comigo, quer que eu seja inocente também.
Oh, doce Inocência!
Experimentei dores demais para acreditar em suas fantasias de flores, borboletas e fadas.
Em meu jardim, linda Inocência, há mais espinhos que flores, mais abelhas que borboletas, e nenhuma fada.
Não se assuste, pequena Inocência. Você não precisa se preocupar com nada disso, não precisa sofrer.
Continue vivendo seus sonhos rosados.
Você não precisa saber de nada disso.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

QUERIDO GREGÓRIO


Faz já um tempo que estou pensando em te escrever, mas venho lutando com as palavras, que insistem em jorrar pelos meus dedos, sem qualquer disciplina ou subordinação, revirando todo o meu interior, bagunçando as emoções e derramando-as pelos olhos. Esta é uma carta de saudade.


Recentemente reli suas cartas e pude reviver cada momento contido nelas. Como é bom o tempo que passo com você. Sinto tanto a sua falta, e nem sei como te dizer ou demonstrar isso. Talvez você jamais consiga dimensionar o tamanho do amor que sinto por você. Talvez eu jamais consiga exprimi-lo em sua totalidade.

Só Deus sabe quanto eu desejo passar mais tempo com você. Queria dançar com você, ouvindo nossa própria música, e passear de mãos dadas ou, melhor ainda, abraçados, com os corações colados, como já fizemos tantas vezes. Tomar um vinho com você e rir de nossa intelectualidade inventada, como se soubéssemos de tudo um pouco. Olhar as estrelas e filosofar sobre a vida, sobre o mundo, sobre as ideias. Ler, pensar, compartilhar. Queria passar mais tempo com você, mas vejo a vida nos atropelando e nos afastando. Reconheço que grande parte desse afastamento vem de minhas escolhas erradas e admito que é um alto preço que venho pagando dia após dia. Ver seus sorrisos e saber de suas conquistas, tendo que observar à distância, sem poder te dizer o quanto estou orgulhosa por você ser quem você é e como você me inspira, é uma dor que carrego comigo constantemente.


Sinto-me culpada por não conseguir superar tantas barreiras que se levantaram entre nós, por não ter te recebido em casa outro dia, por não estar tão presente como gostaria num dos momentos mais importantes de sua vida e ter agido como mera coadjuvante de sua felicidade. Por favor, perdoe-me por ter colocado outro em seu lugar.


Apesar de tantos conselhos e encorajamentos que você me deu, continuei pegando atalhos, ferindo-me nos espinhos. Estou acorrentada em minhas derrotas e isso me envergonha. Vejo-te tão independente e bem sucedido, feliz e realizado, após um período de difícil escalada, e isso me enche de orgulho. Como já disse, você me inspira. Tenho muito orgulho de tudo o que você é para mim. Sinto muito por não poder ser grande coisa para você.


Sei que já passou um tempo, mas não poderia encerrar essa declaração sem parabenizá-lo por sua mais recente felicidade. Estou realizada em vê-lo tão feliz, com o sol brilhando ao seu lado, iluminando seu dia e sua vida. Desejo, de todo coração, que esse sol te envolva todos os dias, e te aqueça, realçando as cores de seus sonhos, trazendo outras realizações que eu sei que você tanto almeja. Vocês são perfeitos juntos e quero que saibam que os amo demais, muito mais do que posso dizer ou demonstrar.


Seja muito feliz, querido Gregório. Ainda teremos muitos momentos para rir juntos, sei disso. Ainda faremos coisas juntos e brindaremos sem motivo, apenas para apreciar o sabor de estarmos um com o outro... E vamos olhar as estrelas... E voar... E dançar... E ser feliz....



Com um amor indizível.....



Sua Lâmede.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

CANTO

Um pássaro, em sua liberdade, voa pela imensidão, sem preocupar-se com nada. Tem tudo o que precisa e sente-se feliz.
Voando baixo, certo dia, algo brilhante chamou sua atenção. Quando se aproximou para ver o que era foi capturado. Tentou voar e não conseguiu. Debateu-se até a exaustão, machucando-se todos, mas não pode sair daquela prisão.
Então ele cantou. Cantou alto e forte, um canto lindo e envolvente. Todos pensavam que cantava por estar feliz. Seu canto, no entanto, era um pedido de socorro. Cantava clamando por sua liberdade perdida. Ninguém entendeu. Ninguém atendeu.
Continuou cantando. Um canto miudinho e fraco, quase desafinado. Não pode mais voar e ser feliz na imensidão. Seu canto foi tudo o que lhe restou. Por isso, apenas por isso, continua cantando.

CADEIRA DE BALANÇO

Da varanda de sua alma velha, presa em uma cadeira de balanço, ela apenas observa.

Lá fora a vida continua. Meninas nascendo, jovens apaixonados casando-se, a estudante dedicada fazendo carreira, crianças brincando no quintal.

Da varanda de sua alma velha, presa em uma cadeira de balanço, ela chora seu luto. Ali mesmo, naquela velha casa, o que tinha de mais querido e estimado está sepultado. Enterrou seu amor, seus sonhos, suas lembranças alegres. Apenas um pequeno raio de sol entra por uma fresta da janela trazendo um pouco de luz àquele lugar.

Lá fora a vida continua. As flores florescem, perfumando o ar, alegrando os olhos. A chuva cai, renovando a vida e trazendo refrigério. O sol aquece, acendendo amores. A lua acaricia a face dos apaixonados. As estrelas cantam e dançam, num grande espetáculo.

Da varanda de sua alma velha, presa em uma cadeira de balanço, ela sente frio. Onde está tudo é cinza e empoeirado. As cores já desbotaram há tempos. As flores murchas foram esquecidas ali para marcar uma vida que já não existe mais. Os sabores, doces e alegres sabores de outrora, se tornaram em amargura na boca seca. A sala está vazia e escura. Os retratos, os poucos retratos que sobraram, estão quebrados ou embaçados pela sujeira. Apenas um pequeno raio de sol entra por uma fresta da janela e brinca em meio ao caos.

Lá fora a vida continua. Uma adolescente passa a noite acordada, suspirando amores coloridos. Uma canção de amor é composta por um músico melancólico. Uma festa de formatura coroa os esforços de um estudante. Uma estrela cadente risca o céu fazendo a menina sonhar.

Da varanda de sua alma velha, presa em uma cadeira de balanço, ela se deixa morrer lentamente, cheia de culpas e remorços e vazia de sonhos e esperanças. Apenas um pequeno raio de sol, que insiste em entrar uma fresta da janela, tenta aquecer seu coração e mantê-la acordada.

Lá fora a vida continua... indiferente...

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

UM POUCO MENOS

Claro que ele ainda a ama.
Não consegue pensar ou desejar outra pessoa.
Se não for com ela, com quem mais será?
Ele a ama, e ponto.
Só que a ama um pouco menos.
Ele se entregou a esse amor desde o primeiro momento, desde a primeira troca de olhares, desde o primeiro toque de mãos. Entregou-se de alma, puro carinho. Mesmo o tempo não era capaz de diminuir o que sentia, só aumentava, cada dia mais entregue. Ela correspondia, se entregava também, sonhava junto os mesmos sonhos, sentia os mesmos sentimentos e amava igual. Um amor intenso e puro. Um não duvida do amor do outro.
Prometeram nunca deixarem de se olhar, nada os separaria.
Mas a vida real é diferente dos sonhos.
Um deslize mudou tudo, e apagou o amor.
Um erro aqui, outro ali, e tudo desmorona como um castelo de cartas.
Não dá para desfazer os erros; não dá para fingir que nada aconteceu.
O faz-de-conta não dura pra sempre.
Claro que ele ainda a ama.
Só que agora, ama um pouco menos.
A cada decepção, um pouco menos.
A cada mentira, um pouco menos.
A cada palavra dura, um pouco menos.
A cada frustração, um pouco menos.
A cada dia, um pouco menos.
Pouco a pouco, menos e menos…
até o dia em que não sobrará amor, apenas desprezo, raiva e orgulho ferido…
novamente igual entre os dois.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

BEIJO PLATÔNICO

Hoje eu desejei tanto um beijo seu.
Minha vontade era tamanha que eu podia sentir o toque dos seus lábios nos meus, tão macios, tão carinhosos...
Senti seus lábios quentes, grossos, tocando os meus bem suavemente, sem ousadia.
Sua boca estava trêmula, como a minha.
Nossos lábios estavam com saudades um do outro, há tanto tempo que não se encontravam.
Hoje, estavam tímidos, acanhados, com medo de se unirem, com medo de se entregarem.
Tanta coisa já aconteceu, tanto tempo se passou, que nossos lábios não tinham certeza se reconheceriam-se.
O beijo não começou na boca, e sim nos olhos.
Um olhar despretencioso, uma imagem sua que ficou guardada na retina da memória.
Um olhar meigo, apaixonado, jovem e sonhador, que não tinha medo de se entregar e revelar o que sentia, hoje estava reservado, rápido, fugitivo. No entanto, nossos olhos se conhecem o suficiente para se entenderem em poucas palavras, poucas olhadas.
Nossos olhares se demoraram mais, parados um no outro, entregando-se. Tudo foi dito no silêncio desse olhar. E quando os olhos se fecharam, sem uma única palavra ser pronunciada, nossa boca não aguentou a distância.
Seus lábios... ah, que saudade deles!! Poderia admirá-los por horas, tocá-los com meus dedos, sentir sua textura, seu tremor, seu calor, seu cheiro. Acariciá-los delicadamente com a ponta de meus dedos, sem pressa para consumí-los.
Quando finalmente nos beijamos, era como se o tempo parasse, e tudo ao nosso redor girasse e se desfizesse e só ficássemos nós dois, beijando-nos delicada e apaixonadamente.
Seu beijo ainda tinha o mesmo sabor da juventude, da paixão sem pretenção. Pude reviver o toque macio de que me lembrava, o carinho que transmitia, o fogo percorrendo por nossos corpos.
Nossa boca não se contentou. De beijos suaves e acanhados, entregamo-nos a beijos apaixonadamente quentes, que unem corpos e corações num mesmo compasso e ritmo. Era como se quisessemos nos tornar um só, e nunca mais nos separarmos novamente.
À medida que nos beijávamos, nossos corpos se fundiam e confundiam. Beijavamos sem reservas, sem medos, sem traumas... apenas deixando que nossas línguas se entendessem, como se entendiam tão bem antes, e retomavam o tempo perdido, o tempo do desencontro.
Não eramos eu e você, mas eramos um mesmo desejo, um mesmo beijo intenso, com a mesma e única finalidade de matar a saudade.
Todo meu corpo tremia, desmanchando-se em suas mãos, desfalecendo-se por seus beijos.
Sua boca, o sabor do seu beijo, seu calor, tudo ainda é do jeito que me lembro ter sido, quando ainda estavamos juntos. Que beijo delicioso o seu, que boca maravilhosa!!
Mas, espere um instante. Não foi assim que aconteceu.
Na verdade, você não está aqui.
Não posso te ver.
Não posso te sentir, te tocar, te cheirar.
Não posso acariciar seus lábios, sentir sua língua, respirar seu hálito.
Não sinto teu olhar me dominando, me confidenciando segredos.
Não sinto suas mãos me envolvendo, me abraçando forte, segurando minha cintura com ternura e paixão.
Não te beijei. Nem posso te beijar.
A razão disso é que você não está aqui do meu lado, não está comigo, não é mais meu.
Seus lábios, sua língua, sua boca, seus olhos, suas mãos, seu corpo, nada disso me pertence.
Não posso ter-te, sentir-te.
Não posso beijar-te.
Não posso beijar-te...
No entanto, em minhas lembranças você ainda está presente, como se tivesse sido hoje.
Em meus sonhos e desejos, seus beijos ainda são meus. E ninguém vai tirar isso de mim.
Deito-me para dormir, sentindo o gosto do beijo que só eu dei em você.