sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

CADEIRA DE BALANÇO

Da varanda de sua alma velha, presa em uma cadeira de balanço, ela apenas observa.

Lá fora a vida continua. Meninas nascendo, jovens apaixonados casando-se, a estudante dedicada fazendo carreira, crianças brincando no quintal.

Da varanda de sua alma velha, presa em uma cadeira de balanço, ela chora seu luto. Ali mesmo, naquela velha casa, o que tinha de mais querido e estimado está sepultado. Enterrou seu amor, seus sonhos, suas lembranças alegres. Apenas um pequeno raio de sol entra por uma fresta da janela trazendo um pouco de luz àquele lugar.

Lá fora a vida continua. As flores florescem, perfumando o ar, alegrando os olhos. A chuva cai, renovando a vida e trazendo refrigério. O sol aquece, acendendo amores. A lua acaricia a face dos apaixonados. As estrelas cantam e dançam, num grande espetáculo.

Da varanda de sua alma velha, presa em uma cadeira de balanço, ela sente frio. Onde está tudo é cinza e empoeirado. As cores já desbotaram há tempos. As flores murchas foram esquecidas ali para marcar uma vida que já não existe mais. Os sabores, doces e alegres sabores de outrora, se tornaram em amargura na boca seca. A sala está vazia e escura. Os retratos, os poucos retratos que sobraram, estão quebrados ou embaçados pela sujeira. Apenas um pequeno raio de sol entra por uma fresta da janela e brinca em meio ao caos.

Lá fora a vida continua. Uma adolescente passa a noite acordada, suspirando amores coloridos. Uma canção de amor é composta por um músico melancólico. Uma festa de formatura coroa os esforços de um estudante. Uma estrela cadente risca o céu fazendo a menina sonhar.

Da varanda de sua alma velha, presa em uma cadeira de balanço, ela se deixa morrer lentamente, cheia de culpas e remorços e vazia de sonhos e esperanças. Apenas um pequeno raio de sol, que insiste em entrar uma fresta da janela, tenta aquecer seu coração e mantê-la acordada.

Lá fora a vida continua... indiferente...

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